Formatação abnt Willian
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quarta-feira, 24 de abril de 2019
quinta-feira, 29 de março de 2018
Janelas de Londres
Domenico havia entrado no
saguão do discreto Hotel Thompson, em Londres, e sentado na poltrona em frente
ao elevador há mais de trinta minutos e isso estava deixando os funcionários do
hotel intrigados. Foi quando o mensageiro, a mando do gerente Sr. Hilbert, se
aproximou e perguntou com a voz tremula e fraca:
- O senhor precisa de algo ou uma ajuda?
Domenico, sem desviar o olhar da porta do
elevador respondeu secamente.
- Não, obrigado.
- O senhor procura por alguém? Insistiu o
mensageiro.
- Um amigo. Disse secamente.
O mensageiro retirou-se e
foi falar com o Sr. Hilbert para relatar o breve diálogo. O Sr. Hilbert era um
homem franzino e calvo e completara dezoito anos de trabalho no hotel no mês
anterior. Em outras circunstâncias já teria chamado a polícia, mas preferiu
aguardar mais um pouco, pois o alarde poderia assustar os hóspedes.
Enquanto Domenico seguia
imóvel olhando fixamente para o elevador e observando as pessoas que entravam e
saíam, a chuva seguia forte do lado de fora do hotel e, neste momento, o chapéu
e o sobretudo de Domenico já estavam quase secos. Apenas seus sapatos ainda
estavam molhados e com pequenas poças de água ao seu redor. Nenhum funcionário
se atreveu a tentar secar o piso molhado diante da figura sinistra daquele
homem.
A cada descida do elevador
Domenico limitava-se a alisar a barba por fazer e retornava a mão direita ao
bolso do sobretudo. O elevador subira novamente e agora estava parado no 14º
andar com sinal indicando que iria descer.
O que não parava era o
pensamento de Domenico que seguia relembrando como conheceu Wanda aos dezessete
anos e os momentos tórridos e apaixonantes que viveram na juventude. Wanda
tinha os cabelos ruivos, um lindo sorriso emoldurado pelos lábios finos e um
brilho nos olhos castanhos próprios da exuberância de quem aproveita a
juventude. Domenico era um jovem magro de cabelo escorrido e alto o bastante
para ser sempre convidado a jogar basquete, mas ele preferia a natação e por
isso tinha ombros largos e fortes.
O amor entre eles foi
arrebatador e intimamente vivido por cinco anos até que Wanda ganhou a bolsa de
estudos para estudar na Inglaterra. Domenico a amava tanto que não permitiu que
ela desistisse do sonho de estudar no exterior em nome do amor entre eles. A
incentivou a viajar, pois tinha a certeza que em um ano ela voltaria para seus
braços ou ele a seguiria. Então levou-a até o aeroporto na data marcada. Entre
muitas lágrimas, Wanda embarcou.
O elevador agora descia para
o 11º andar. Domenico e Wanda trocavam juras de amor diariamente nas primeiras
semanas. O tempo passava se arrastando e Domenico mal conseguia trabalhar como
caixa no banco.
Com o passar dos meses as
ligações deixaram de ser diárias, mas as juras de amor e a saudade de ambos
seguiam vivas. Domenico lembrava bem da última ligação em uma noite quente de
verão, quando Wanda estava eufórica e feliz por ter tirado nota máxima em uma
difícil matéria do curso de Jornalismo e avisou que iria comemorar com umas
amigas. Foi a última ligação de Wanda, o elevador agora estava no 8º andar.
No dia seguinte a notícia,
no jornal sensacionalista da TV, veio como um baque:
- Brasileira morre ao jogar-se da janela de
prédio na Lewis Street, em Londres. Disse o apresentador com voz esganiçada.
Domenico não entendia como,
mas tinha certeza de que se tratava de Wanda. O corpo voltou ao Brasil e
Domenico ficou inconsolável no enterro e por muitos meses. Perdeu o emprego e
ficou perplexo com o que ocorrera. Não creditava na história do acidente que
ouvira na TV. O elevador parara no 5º andar.
Inconformado, viajou para
Londres e matriculou-se em Jornalismo na mesma Faculdade que Wanda estudara.
Aos poucos foi conhecendo os professores e alunos. No semestre seguinte foi
cursar a mesma matéria na qual Wanda havia tirado a nota máxima. Por tratar-se
de um brasileiro, não tardou a comentarem sobre o acidente que havia ocorrido
um ano antes com sua amada. Era doloroso ouvir sobre o assunto e o que o
confortava era que todos a admiravam e também não entendiam porque ele teria se
jogado pela janela. Nem ele, mas isso mantinha em segredo, apesar da dor.
Assim que receberam o resultado
da primeira prova, muitos combinaram de comemorar e o Professor Sr. Moltz
convidou a todos para umas bebidas. O Professor Moltz era um homem calvo com
uma barriga bem saliente. Os cabelos desgenhados e o nariz avantajado não o
deixavam nem um pouco atraente.
Após algumas rodadas duas
meninas saíram do bar com o Professor Moltz e foram embora. Domenico comentou
com outros rapazes e um deles, que era repetente, disse que o Professor sempre
levava meninas com ele alegando dar umas dicas a mais sobre a matéria ,mas eles
achavam que ele oferecia mesmo era mais bebidas, drogas e uma nota alta para
obter sexo com as jovens estudantes. O elevador agora havia parado no 2º andar.
Domenico
então saiu do bar e seguiu o Professor Moltz. O que não o surpreendeu foi que
ele se dirigiu para a Lewis Street e os viu entrando num velho prédio. Ele foi
até lá e subiu, discretamente, até o 5º andar. No corredor ouvia os gritos
eufóricos das meninas:
-
Tem da boa, Professor? Gritou uma.
-
Você já me conhece, Andrew. Aqui está, meninas. Disse ele. E os risos e gritos
ficaram mais altos.
Domenico ficou atônito, mas
achou melhor ir embora. As peças se encaixavam.
O elevador chegou ao térreo
e o barulho da porta abrindo trouxe Domenico de volta de suas lembranças. Duas
senhoras de meia idade desceram conversando alto sobre a chuva e as compras que
fariam no shopping. Atrás delas, no fundo do elevador um homem de cabelo
desarrumado e nariz grande começou a sair. Domenico levantou-se, tirou o chapéu
e o Professor Moltz reconheceu seu aluno, abrindo um sorriso e perguntando se
ele bebera muito no dia anterior.
Domenico não respondeu e sem
tirar a mão do bolso do sobretudo descarregou a arma que mantinha carregada. O
corpo do Professor caiu dentro do elevador enquanto os gritos das senhoras se
espalhavam pelo saguão do discreto Hotel Thompson, para desespero do Gerente
Sr. Hilbert.
Domenico foi caminhando em
direção a porta saindo calmamente na chuva torrencial que caía, mas com a
certeza de que nenhuma outra história de amor entre jovens seria desfeita pelas
janelas de Londres.
segunda-feira, 13 de novembro de 2017
ZÉ, DO BRASIL !!
Zé morava numa pequena cidade litorânea do Brasil desde que nascera.
Teve uma infância humilde e quase não frequentou a Escola tornando-se um
ajudante e depois pedreiro por profissão.
No verão ganhava um reforço no orçamento quando com sua simpatia e
sorriso no rosto vendia picolés na beira da praia onde invariavelmente superava
seus colegas na quantia vendida. Com os anos passando, o casamento e a
chegada dos filhos seu sonho de se tornar um jogador de futebol foi deixado a
lado.
Mulato baixo e forte seguia mais um final de dia pela beira mar quando
um turista o convidou para jogar um pouco de futebol. Tirou o uniforme e já fez
uma goleira com seus chinelos.
-Três gols. Disse o americano.
-Três gols. Disse o americano.
Zé pedreiro fez OK na hora.
O americano com pernas compridas e ágeis surpreendeu Zé e marcou logo um
gol. 1x0. Zé se refez da surpresa e partiu para o ataque tentando um drible,
mas o americano defendia-se muito bem e contra-atacava com perigo. Algumas
poucas pessoas que caminhavam pararam para olhar o desafio. Zé pedalou de um
lado para outro ate conseguir ultrapassar e marcar o seu gol. 1x1. A honra
estava limpa. As pessoas aplaudiram.
O americano tentou mais um ataque rápido, mas Zé pedreiro bloqueou e
recuperou a bola. Zé ousou, empolgado, o drible da vaca e com ajuda do vento
superou a marcação do americano. Viu a bola sobrar livre na frente do gol e
completou entre os chinelos marcando o gol da vitória para sua felicidade e
delírio de quem assistia e gritava.
Feliz, Zé pedreiro lembrou-se de Bebeto superando a zaga americana na
Copa de 94 fazendo o gol e, por um momento, sentiu-se o craque daquela seleção
campeã. Agora era Zé Bebeto! !!!! Zé do Brasil!!
Suado, correu em direção ao mar e jogou-se mergulhando fundo. Sentiu o
mar morno relaxar o corpo cansado, inundando-se de felicidade.
Levantou-se e retornou para a areia onde o americano o aguardava ao lado
de seu carrinho.
- É sua esta bola, um presente. Disse o gringo.
- Obrigado. Agradeceu Zé com seu simpático sorriso. Sabendo que aquele
seu troféu se tornaria o brinquedo preferido dos filhos.
E, juntos, ficaram felizes escorados no carrinho saboreando picolés e o
brilho do pôr do sol atrás dos morros.
-Todo mundo tem direito. Suspirou Zé.
quarta-feira, 8 de novembro de 2017
Domingo de manhã
Quando acordou, Pedro viu que o
sol já estava alto na manhã daquele domingo de verão. Havia bebido além da
conta na noite anterior, a cabeça doía e aos poucos foi voltando à realidade. Olhou
para a cama revirada e só então percebeu a falta dela.
Saiu pela sala, banheiro e procurou
esperançoso no resto da casa, mas nenhum sinal de Mari. Entristeceu-se.
Preparou um forte café na cozinha
e ficou pensando nos últimos acontecimentos da semana como a perda do emprego,
a ameaça de despejo e a batida de carro. Tantas coisas juntas acontecendo
ao mesmo tempo e agora, de manhã, Mari também não estava ali. O que mais
estaria por vir?
Analisou a possibilidade de
aceitar a oferta de trabalho que um amigo havia feito e mudar-se de Estado,
talvez fosse esse o momento. Resolveria ou fugiria dos problemas, mas e Mari?
Estava tão concentrado em seus
pensamentos que quase não ouviu o barulho na porta, abriu-a e fez um largo
sorriso ao ver Mari entrar, mas ela sequer lhe dirigiu o olhar.
Foi direta até a cozinha, tomou
água e virou-se finalmente para encará-lo.
Pedro sentiu um calafrio e ficou
um instante sem ação, mas logo se refez, tomou um gole do café é foi servir
ração para sua gata persa. Tudo em seu devido lugar, Mari estava de volta.
sábado, 14 de outubro de 2017
Crônica de Willian
Vida Fácil
Adolfo estava atrasado, portanto
caminhava apressado pela calçada no fim de tarde quando encontrou a esposa de
um amigo parada na calçada. Mesmo assim, parou para lhe dar um abraço.
-Olá, há
quanto tempo! Como vai? Disse sorridente como sempre.
-Vou bem,
obrigada. Respondeu Márcia.
-Esperando um
táxi ou o marido bonitão? Brincou Adolfo.
-O maridão, é
claro.
Trocaram algumas palavras rápidas e
logo apontou na esquina o carro de Rildo, marido de Márcia.
Adolfo,
sempre brincalhão, mostrou o relógio dizendo.....
-Atrasado!
Quase que ela te abandona, haha.
Mas Rildo respondeu em tom áspero:
-Não tenho
esta tua vidinha fácil.
Num único segundo Adolfo pensou em
seus dois anos e meio sem trabalho, na escola dos filhos e nas contas em
atraso, na perda de um ente querido recentemente, no dinheiro emprestado que
não consegue devolver, nas dores no corpo e na luta contra a ansiedade e nos
remédios necessários para controlá-la. Então, no mesmo instante, bateu no ombro
de seu amigo Rildo olhou nos seus olhos e respondeu de forma calma e
sorridente:
-Verdade, vá
com Deus.
Voltou-se para a calçada e retomou seu
passo apressado para buscar os filhos na escola segurando as lágrimas que
teimavam em escorrer pela face, para que os filhos não percebessem sua dor.
sexta-feira, 18 de agosto de 2017
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Willian Roberto Scherer
Fone/whats: 51 99269-4733
e-mail: willianrscherer@hotmail.com
e-mail: formatacaoabnt.willian@gmail.com
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quarta-feira, 21 de setembro de 2016
Jujubas
Os amigos atravessaram a rua juntos, lado a lado, levantando pó do chão em barro vermelho fazendo os pés no chinelo do menino ficarem sujos. Chegando na calçada, em frente ao Armazém do Gringo, o cachorro sentou-se para aguardar seu amigo menino realizar sua compra.Ao entrar no Armazém o menino sentiu o cheiro das linguiças penduradas, mas antes disso seu amigo sentado na porta já estava a deliciar-se com o perfume inconfundível. Dirigiu-se ao balcão e ouviu o Gringo perguntar:
- O de sempre?
O menino acanhado balançou a cabeça que sim, então girou-se o baleiro e o Gringo juntou um punhado de jujubas que colocou em um saquinho de papel e levou à balança antiga. Acrescentou mais umas balinhas pra “agradar” o cliente e entregou o saquinho ao menino.
Na outra ponta do balcão o menino foi para fazer o pagamento para a filha do gringo que ficava no caixa pela manhã, a tarde estavam juntos na Escola do Bairro. Ela com seu cabelo avermelhado preso num rabo de cavalo exaltava seu rosto redondo com pequenas sardas e olhos verdes, os lábios finos mostravam os brancos dentes dos seus 12 anos.
- São trinta centavos. Disse ela.
O menino enfiou a mão no bolso da surrada bermuda e colheu suas moedas que colocou sobre o balcão. A menina contou e devolveu uma moeda de 10 centavos que sobrou (sabia o menino que teria de juntar mais vinte para o dia seguinte).
Ele ameaçou um sorriso e ela agradeceu pela compra, sorrindo.
-Obrigada.
Então alargou-se o mais feliz sorriso no menino, seu coração parecia saltar pela boca o estômago revirado e as pernas duras o deixaram sem ação.
Nisso, o Gringo deu uma tossida fazendo o menino retornar a realidade e encaminhar-se para a saída. Na porta seu fiel amigo o esperava ansioso com o rabo abanando.
Os dois amigos voltaram a caminhar na rua de terra, mas nem se importavam, pois o menino seguia leve com a lembrança do sorriso em sua mente e seu cachorro tonto com o perfume da lingüiça na ponta do focinho.
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